Gualter Rainha é o autor do primeiro livro de cozinha vegetariana publicado nos Açores. O chef vegano considera que é possível levar os sabores da gastronomia açoriana aos pratos vegetarianos.
“Comer vegetariano durante uma semana” é o título do seu primeiro livro. Quais as sugestões que tem e apresenta aos leitores?
No meu livro “Comer vegetariano durante uma semana” tenho sugestões para as várias refeições do dia, desde o pequeno-almoço ao jantar, com sugestões de lanches entre refeições e algumas dicas de lanches noturnos.
Nas várias sugestões o leitor terá acesso a várias bases de cozinha vegetariana e o objetivo é transmitir que que é bastante simples preparar uma refeição e bastante acessível no que respeita aos custos.
Também sugiro aos leitores que realizem alguns desafios presentes no livro, de forma a incentivar a que conheçam melhor os produtos e ingredientes. É deveras importante conhecermos o que ingerimos.
A qualidade dos produtos açorianos pode potenciar o desenvolvimento de uma nova vertente da gastronomia açoriana destinada aos vegetarianos?
A qualidade dos produtos açorianos é muito boa, temos produtores locais a produzir com alta qualidade quer no aspeto ou na vertente sustentável pelo pouco uso de substâncias químicas que são prejudiciais para a nossa saúde.
Qualquer ingrediente que possamos ter à mão pode dar origem a um prato excelente e potenciar uma nova vertente de gastronomia açoriana vegetariana-
É necessário sermos criativos e conjugarmos com temperos que são caraterísticos nos Açores.
Qual a sua visão sobre a gastronomia açoriana na componente tradicional e também da inovação?
Acho muito importante que a componente tradicional esteja presente nas nossas vidas, uma vez que faz parte da nossa herança pessoal que nos é transmitida entre gerações.
Eu adoro os sabores tradicionais que caraterizam a cultura gastronómica dos Açores. Atualmente, no meu entender, o consumo e o uso excessivo de carne desequilibraram o que era comum em tempos passados, de acordo com o que leio e o que me contam de vivências antigas.
Os derivados e a carne eram chamados “conduto” e a base da alimentação eram sobretudo as sopas, as açordas, e refeições onde nunca era dispensado o pão caseiro, os legumes, os cereais os tubérculos, que eram fruto das colheitas das famílias.
Compreendo que em termos culturais se defenda a produção local da carne, os enchidos e os derivados, mas a quantidade que se come atualmente é, frequentemente, desproporcional ao recomendado e vê-se muito isso na oferta da restauração.
É claro que o cliente gosta de ser bem servido, mas a nossa gastronomia é bem mais saudável e diversificada do que a que muitas vezes se vende.
Relativamente à inovação, acho que é importante, até porque o presente assim o exige.
Há que haver oferta para todos os gostos, para todos os bolsos e essa inovação no meu entender, deve fazer-se acompanhar com pedagogia com a cultura e a saúde sempre associadas.
Como se pode potenciar a gastronomia açoriana como fator de crescimento do turismo açoriano?
Atualmente, os media facilitaram muito a promoção da nossa Região. Pode-se observar isso pelo número de turistas que visitam as nossas ilhas, que nos últimos anos cresceu muito graças a alavancagem da inovação e informação.
As redes socais e sites turísticos são ótimos para potenciar a gastronomia, mas devo referir que todas as pessoas que nos visitam, independentemente a dieta que sigam, devem ter a oportunidade de saborear um prato com os sabores regionais, mesmo que adaptados para opções vegetarianas neste caso, neste sentido, a inovação é importante e a cultura deve ser encarada como abrangente e não limitadora.
Cada pessoa tem a sua crença, cada pessoa defende ou se identifica com alguma causa diferente da minha e nesse sentido é importante haver empatia por parte da restauração, expandindo a oferta com opções vegetarianas ou sem glúten de forma mais consistente e pensada.
Este é um ótimo potenciador da gastronomia açoriana da atualidade.