O TASTE é um projeto de investigação sobre as potencialidades da gastronomia açoriana no contexto do turismo sustentável. Teresa Borges Tiago realça, em entrevista, a importância da tradição gastronómica açoriana.
Quais são os objetivos do projeto TASTE Azores Sustainable Tourism Experiences?
O TASTE é um projeto de investigação multidisciplinar, enquadrado no domínio do turismo e apoiado pelo PO Açores 2020, que procura valorizar a experiência turística oferecida na Região, através da identificação e comunicação da riqueza da gastronomia regional assente num trabalho de pesquisa histórica.
Este trabalho procura explorar o significado da comida local e o papel desta no reforço da identidade, autenticidade e património cultural que pode ser englobado na experiência turística partilhada, integrando três perspetivas distintas da comida local: a histórica gastronómica, como elemento de riqueza cultural; a valorização da gastronomia pelos habitantes e pelos turistas partilhadas nas redes sociais; e a inovação gastronómica que desenvolve a fusão entre o tradicional, os produtos locais e as tendências da cozinha moderna.
Ao longo dos anos têm surgido iniciativas pontuais de registo da tradição gastronómica regional, muitas das quais centrada num produto específico ou numa ilha ou localidade particular.
Um ótimo registo que o tempo felizmente não apagou foram os livros de receitas das famílias ou mesmo a memória das pessoas, que já permitiu o surgimento de alguns livros de receitas ou mesmo no portal (https://cozinhaacoriana.pt/). Nestes registos muitas vezes as pessoas conseguem ter contacto com o receituário regional.
Porém, não é feita a sua contextualização histórica, nem explorados os processos de mobilidade e transformação que a receita foi tendo.
A este facto não deverá ser alheio as implicações logísticas que uma investigação em todas as ilhas e desta extensão implica.
Com este projeto não pretendemos esgotar a temática, até porque a gastronomia regional é muito rica e diversa, mas pretendemos contribuir para minimizar esta lacuna.
Brevemente irão ser publicados dois capítulos, um na área do turismo e outro na área da história, fruto da presente investigação científica.
O conhecimento e informação gerados no projeto podem ser incorporados de diferentes formas nas propostas de cariz gastronómico e vinícola (HORECA, museus, adegas regionais, confrarias, Instituições Particulares de Solidariedade Social) da Região.
Ainda não existe nenhuma grande obra de referência sobre todo o contexto gastronomia açoriana. Como se justifica a falta de estudos com base científica sobre a evolução da gastronomia regional ao longo de mais de cinco séculos?
Ao longo dos anos têm surgido iniciativas pontuais de registo da tradição gastronómica regional, muitas das quais centrada num produto específico ou numa ilha ou localidade particular.
Um ótimo registo que o tempo felizmente não apagou foram os livros de receitas das famílias ou mesmo a memória das pessoas, que já permitiu o surgimento de alguns livros de receitas ou mesmo no portal (https://cozinhaacoriana.pt/). Nestes registos muitas vezes as pessoas conseguem ter contacto com o receituário regional.
Porém, não é feita a sua contextualização histórica, nem explorados os processos de mobilidade e transformação que a receita foi tendo.
A este facto não deverá ser alheio as implicações logísticas que uma investigação em todas as ilhas e desta extensão implica.
Com este projeto não pretendemos esgotar a temática, até porque a gastronomia regional é muito rica e diversa, mas pretendemos contribuir para minimizar esta lacuna.
Brevemente irão ser publicados dois capítulos, um na área do turismo e outro na área da história, fruto da presente investigação científica.
Considera que a gastronomia açoriana é devidamente valorizada no contexto da oferta turística açoriana?
A gastronomia açoriana é um composto de diversos produtos culinários e vinícolas que refletem a cultura e as especificidades de cada ilha.
Como património cultural que é, pode e deve ser considerada como parte da experiência turística que é oferecida a quem nos visita.
Nalgumas locais constata-se uma apresentação mais cuidada destes produtos e a sua consideração enquanto parte integrante da experiência. Noutros locais, ainda não existe tanto a preocupação de valorização da gastronomia regional.
Este é um caminho que temos de trilhar todos. Não nos podemos esquecer que o turismo nos Açores é uma atividade que só mais recentemente começou a ser pensada como uma experiência.
Durante muitos anos, o turismo era pensado como componentes independentes que eram oferecidas sem um conceito agregador. Neste momento, a Região quer afirmar-se como destino sustentável.
Ora qualquer destino sustentável requer a concretização dos princípios da sustentabilidade a três níveis: ambiental, económico e sociocultural.
A gastronomia é um elemento do património cultural imaterial e como tal a sua valorização reforça a sustentabilidade e autenticidade da oferta turística e contribui economicamente para o desenvolvimento das atividades dos demais setores.
Pelo que se quisermos apostar no turismo sustentável temos de pensar enquanto Região na valorização da nossa gastronomia e dos nossos vinhos.
Quais as principais ações que devem ser concretizadas no sentido de que possa haver um maior conhecimento da cozinha açoriana e a sua preservação como elemento importante da nossa cultura?
O portal cozinhaacoriana.pt é um ótimo exemplo de uma iniciativa que pode ser levada a cabo para dar a conhecer a riqueza gastronómica regional.
Há que difundir e enriquecer os conteúdos disponíveis no repositório da gastronomia regional, quer seja através de registos escritos, quer com registos áudio e vídeo.
No caso do projeto TASTE, para além de termos uma plataforma onde iremos disponibilizar as manifestações recolhidas nas nove ilhas e a sua contextualização histórica, procuramos também colaborar no inventário do Património Imaterial dos Açores que tem sido levado a cabo pela Direção Regional da Cultura.
Entrevista publicada online no cozinhaacoriana.pt e no jornal Diário Insular